Petrobrás migra construções da P-78 e P-79 para a Ásia e deixa de gerar 88 mil empregos no Brasil

Texto: João Lucas Gama

Esta semana a Petrobrás anunciou que não deve mais construir as plataformas P-78 e P-79 em território brasileiro. A construção das plataformas deve migrar para países Singapura. Inicialmente, ambas seriam construídas em Búzios (Rio de Janeiro) e gerariam em torno de 8 mil empregos diretos e cerca de 80 mil empregos indiretos. Com a decisão da companhia, os postos de trabalho serão transferidos para a Ásia. A expectativa da estatal é que a P-78 e P-79 entrem em operação a partir de 2025.

As obras já estavam em curso, quando a Petrobrás decidiu recuar com o empreendimento para os países asiáticos. A justificativa da companhia, foi a grave crise econômica que já atingia o estado do Rio de Janeiro antes mesmo da pandemia. “Tive uma conversa com o presidente da Petrobras [Roberto Castello Branco]. Ele foi claro: ‘Vou comprar onde tiver de comprar com preço mais baixo”‘, afirmou Sérgio Bacci, vice-presidente do Sindicato da Indústria Naval. Em sua avaliação “A Petrobrás é mais do que 50% estatal. Se ela quer dar lucro para o investidor privado, pode optar por fazer a metade das plataformas no exterior e a outra metade no Brasil, criando empregos”, conclui.

Atualmente o Brasil tem 14,1 milhões de desempregados; 5,9 milhões de desalentados e possui 30,3% da força de trabalho ativa em condições de subutilização. Somado a este cenário, ao longo do ano de 2020, a produção industrial do país caiu em 8%.

A decisão da gestão Castello Branco reafirma o ciclo de desinvestimentos da companhia, permitindo o sucateamento do parque de refino nacional, bem como da indústria naval brasileira. Além disso, revela as profundas incoerências entre o discurso do presidente Jair Bolsonaro que, ainda durante a campanha presidencial, utilizava-se do argumento de que o dinheiro do contribuinte estava usado para construir obras fora do país.

Ao longo dos últimos quatro anos, o movimento sindical petroleiro tem veementemente cobrando que as gestões de Pedro Parente e Roberto Castello Branco façam valer a função social da Petrobrás como agente garantidora do desenvolvimento nacional e tecnológico. Para o pleno exercício desse papel, é fundamental que a estatal valorize e invista na indústria brasileira, de modo a garantir a geração de emprego e renda.

Longe dos discursos xenófobos contra os povos asiáticos, esses postos de trabalho são nossos por direito. É totalmente incoerente que a companhia, tendo como acionista majoritária o Estado, e consequentemente a sua população, transfira um empreendimento dessa magnitude para a Ásia, utilizando a profunda crise econômica que o país enfrenta como justificativa para a sua decisão; sobretudo quando a própria empresa tem a faca e o queijo na mão para ajudar a reverter tal quadro. São 88 mil postos de trabalho, ou 88 mil brasileiros e brasileiras (muitos deles desempregados por ausência de medidas do Governo Federal) que deixam de trabalhar em função de uma lógica que jamais deveria ser aplicada por uma estatal.

Outro cenário é possível

No dia 17 de dezembro de 2013, a plataforma P-62 foi inaugurado, no Estaleiro Atlântico Sul, localizado no município de Ipojuca (PE). Construída como parte do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e seguindo o Plano de Negócios e Gestão da companhia para os anos de 2014-2018, durante o governo da então presidente Dilma Rousseff.

A P-62 tinha capacidade diária para produzir 180 mil barris de petróleo e 6 milhões de metros cúbicos de gás. Ela foi construída para atuar no campo de Roncador, no pós-sal da Bacia de Campos (RJ), e foi instalada em uma profundidade de 1.600 metros, a 125 quilômetros da costa, dando início à sua produção no primeiro trimestre de 2014.

Essa obra gerou aproximadamente de 5 mil empregos diretos e 15 mil indiretos, mobilizando diversos setores da indústria brasileira. Todos os 15 módulos da plataforma, responsáveis pelo processamento e tratamento de óleo, gás e água, também foi feita no Brasil, através de três pacotes com as empresas contratadas, a UTC Engenharia (responsável pelos módulos de processo e compressão) e a Empresa Brasileira de Engenharia (EBE) – incumbida dos módulos de processo.

A partir do dia 12 de maio de 2014, a P-62 passou a operar plenamente, somando-se a outras três unidades da Petrobrás (P-52, P-54 e P-55) que já operavam no campo do Roncador. A estrutura possuía 60,5 mil toneladas do tipo FPSO (unidade de produção, armazenamento e transferência de petróleo). Foi emprego, renda e desenvolvimento social, econômico e tecnológico que o Governo Federal da época promoveu em benefício da indústria brasileira e do bem-estar social da sua população. Esse é apenas um de tantos exemplos da história recente do país que provam factualmente que uma outra forma de gestão é possível para uma empresa estatal.

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