Economista do DIEESE faz análise de conjuntura em setorial do Sindipetro
Texto: João Lucas Gama
Na última segunda-feira (27) o economista Cloviomar Cararine participou do encontro setorial sindical, realizado pelo Sindipetro PE/PB através da plataforma Google Hangout, onde proporcionou aos trabalhadores e trabalhadoras uma análise técnica sobre a atual conjuntura socioeconômica da Petrobrás diante do momento de desvalorização do barril de petróleo, em consequência da crise gerada pelo Covid-19. Cloviomar é mestre em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), técnico do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (DIEESE) e assessor da Federação Única dos Petroleiros (FUP).
Para ele, a retomada da circulação de pessoas e a queda dos preços de combustíveis é uma estimativa incerta. Ele aponta que, apesar da retomada depender das ações adotadas pelos prefeitos e governadores, o ano de 2020 já é emblemático para história. “Daqui para a frente, não vamos mais voltar aos patamares de circulação que tínhamos; não vamos parar completamente, mas reduzir”. De fato, estudos recentes desenvolvidos pela Universidade de Harvard, nos EUA, já apontam que períodos alternados de distanciamento social poderão ser necessários até 2022. Isso mudaria significativamente as relações trabalhistas, criando assim um novo mercado. “Essa coisa de trabalho mais virtual, para alguns ofícios, pode acabar acontecendo; eu não vejo, a médio prazo, uma perspectiva de retornarmos à circulação de pessoas e de coisas, como tínhamos anteriormente”, diz Cloviomar, “Na verdade, isso vai depender muito das ações que os países forem adotando; o Brasil, com o governo Bolsonaro, tendo optado por, se possível, voltar ao patamar anterior, mesmo que isso custe milhares de vidas”.
Já sobre o preço do barril de petróleo, após sua queda histórica registrada no último dia 20, o técnico do DIEESE desconfia da posição alguns especialistas que afirmam que o preço do barril não voltará à marca de US$ 40,00 dólares, mas concorda que o fato trará mudanças para o setor. “A instabilidade que a gente começou a gerenciar a partir de 2008 e que oscilou o preço do barril tem se intensificado nesse período; minha sensação é que, até o fim deste ano, vamos continuar com um preço baixo de barril e isso vai trazer um desafio grande para as empresas de petróleo, porque para além da redução do consumo, haverá também a redução da produção e ela vai se concentrar em campos mais rentáveis, ou seja, com custos menores de produção”, comenta.
Ele também comentou a recente modificação na política de preços implementada pela gestão Castello Branco, que tem controlado, mesmo que timidamente, a variação diária no valor dos combustíveis. “A queda do preço do barril lá fora, pode favorecer a importação, mas, por outro lado, com os estoques das refinarias cheios e o câmbio subindo (quase R$ 6,00 reais o dólar), isso vai dificultar o trabalho das importadoras; não é à toa que a Petrobrás irá começar um processo de leilão de derivados nas refinarias”. O economista explica que o processo de disputa com as importadoras começou em 2018, quando a estatal avaliou que a política de favorecimento aos importadores privados não foi benéfica para companhia; porém as diretrizes adotadas pela equipe que assumiu a direção da empresa em 2019 foi justamente voltar a disputar com as importadoras. “Há uma política clara dos governos Temer e Bolsonaro de que é preciso retirar o monopólio das refinarias e criar concorrência; enquanto você não vende as refinarias, você estimula a entrada de importadoras, para que elas disputem com a refinaria. Deu errada essa estratégia!”.
Mas um dos pontos que mais preocupam o economista da FUP diante da atual conjuntura é a distribuição não só de combustíveis, mas também do gás de cozinha (GLP). “A venda da BR Distribuidora [em julho do ano passado] já foi um erro, mas a venda da Líquigás [vendida em novembro de 2019] é o pior problema nesse momento”, afirma. As medidas de isolamento social aumentaram o consumo do produto no país e, em algumas regiões, já ocorre desabastecimento. “A FUP fez, recentemente, uma consulta a várias refinarias para saber se é possível aumentar a capacidade de produção de GLP e constatamos que não, não é possível aumentar muito; a gente vai ter que importar”, revela. A federação tem defendido a política de que o Governo Federal, através da Petrobrás, deve subsidiar o preço do gás de cozinha para as pessoas de baixa renda, que recebem o Bolsa Família e/ou receberam o auxílio de R$ 600,00 reais.
Outra questão trabalhada ao longo do debate, foi o agravamento da precarização dos contratos de trabalho e como isso afeta a categoria petroleira. O Brasil já vem sofrendo com o problema do desemprego desde 2015, esse problema foi intensificado com a Reforma Trabalhistas e a implementação do Teto de Gastos do Governo Temer e, posteriormente, com a Reforma da Previdência, além dos sucessivos ataques aos direitos trabalhistas feitos pelo atual governo. Quando perguntado se a situação atual poderia gerar uma onda de demissões dentro do Sistema Petrobrás, o técnico do DIEESE respondeu: “Se a estatal, ao longo do mês de Maio, continuar em crise devido à forte redução do consumo, é possível que a Petrobrás venha com essa política de tentar reduzir, ou pagar apenas parte dos salários; lembrando que essa é uma empresa intensiva em capital e pouco intensiva em trabalho, pois o custo dos seus trabalhadores é muito baixo [em comparação ao valor destinado à manutenção de suas estruturas e equipamentos], mas isso não justifica a redução dos salários”.
Em geral, o convidado debateu por mais de uma hora com trabalhadores(as) das bases, além de membros da diretoria local e representantes da FUP, da Central Única dos Trabalhadores de Pernambuco (CUT-PE) e do Sindipetro Unificado São Paulo (que também prestigiaram o evento). Entre tantas reflexões propostas naquela noite, uma delas fala mais alto: “A pandemia vai passar, mas a pergunta é qual o custo social que vamos pagar por ela?”.