NOTA DE REPÚDIO: PF e PM-RJ aplicam práticas antissindicais contra petroleiros do Norte Fluminense
Texto: João Lucas Gama
“Uma injustiça que se faz a um, é uma ameaça que se faz a todos”, dizia o filósofo iluminista Montesquieu; tal afirmação por vezes encontra ecos na realidade, como puderam constatar os petroleiros do Norte Fluminense, durante a ação conjunta da Polícia Federal e Militar do Rio de Janeiro, em parceria da gerência do Aeroporto de Cabo Frio (RJ). O episódio marcou mais uma página no lamentável histórico de práticas antissindicais aplicadas sistematicamente aos trabalhadores da Petrobrás durante as gestões do Governo Bolsonaro.
Eram por volta das 10h30 da quinta-feira (10) quando agentes da PF e da PM-RJ iniciaram a coação dos trabalhadores que dialogavam com as lideranças sindicais durante uma setorial do Sindipetro NF que acontecia no Aeroporto de Cabo Frio. A ação quebrou todos os protocolos de segurança sanitária de prevenção à Covid-19 e o distanciamento social entre os petroleiros pré-embarcados, a fim de encerrar o andamento do ato público contra a abertura do processo de demissão do diretor Alessandro Trindade.
A medida foi flagrada em uma transmissão ao vivo, feita pelo Sindipetro NF. Nas imagens é possível ver agentes sem identificação coagindo funcionários do Sistema Petrobrás, filmando os petroleiros que participavam da manifestação e, por vezes os abordando individualmente para questioná-los se iriam embarcar, constrangendo os trabalhadores presentes que exerciam seus direitos de liberdade de expressam e organização sindical ao denunciarem a arbitrariedade da demissão de um sindicalista.
“A gente está vivendo um estado de exceção”, qualificou Alessandro Trindade na publicação feita pelo site do Sindipetro NF. O sindicalista punido pela Petrobrás por distribuir cestas básicas para a ocupação Campo dos Refugiados, montada em um terreno pertencente à empresa no município de Ituaguaí (RJ), mas que não cumpria nenhuma função social desde 1986, estava presente no ato que acontecia em sua defesa e presenciou a ação dos policiais. “Esse aqui é um espaço que o representante da categoria tem para dialogar com todos […] só que hoje foi quebrado o protocolo sanitário, o protocolo que a própria Petrobrás tanto zela foi quebrado pelo aparato policial”.
Na mesma publicação, o coordenador geral do Sindipetro-NF, Tezeu Bezzerra, qualificou a ação como irresponsável. “Eles [da gerência] nem explicaram à polícia como funciona [o isolamento]. Chegam aqui, vão entrando na área protegida, mexendo no cordão de isolamento que a gente respeita e sempre respeitou. É o momento truculento que a gente tem vivido. A gente não abaixa a cabeça”.
O embarque dos trabalhadores acabou por ser abortado em função das chuvas que atingiam a região. O Sindicato dos Petroleiros do Norte Fluminense informou que irá monitorar possíveis casos de infecção entre os trabalhadores que foram abordados pelos agentes, bem como de seus contactantes nas plataformas e que, “em caso de adoecimento, a entidade vai tomar ações judiciais para identificar e punir os responsáveis pela quebra do isolamento”.
O Sindipetro PEPB repudia a ação das forças policiais, bem como toda e qualquer prática que fira a integridade moral dos trabalhadores, assim como seus direitos à liberdade de expressão e livre organização sindical.
O sindicato lamenta ainda que notas de repúdio deste tipo tenham se tornado um gênero textual tão comum em nossos meios de Comunicação, destacando que a incidência deste tipo de fato fala mais alto do que qualquer palavra possa expressar, uma vez que o ocorrido em Cabo Frio (e em tantas outras bases espalhadas pelo Brasil) revelam uma notável ameaça aos princípios da democracia e o alinhamento dos aparelhos repressivos de Estado a um projeto neofascista que em muito nos fazem lembrar dos anos de chumbo da ditadura militar.