Novembro, mês da consciência negra, exige que este período de transição de governo central do país inspire reparação com o povo negro
O projeto de criminalização das vítimas da exclusão social na história brasileira, popularizado pela infame afirmação: “deixa de mimimi!”; foi derrotado nas urnas. Um projeto que assumiu o poder afirmando “que as minorias tem de se curvar as maiorias” e nestes quatro anos, sempre que teve oportunidade negou a história racista que remendou a sociedade brasileira, sagrou-se minoritário; mas segue esbravejando, pois desnudou o que antes era velado entre comentários infelizes em reuniões familiares, nas escolhas de currículos profissionais no mundo do trabalho ou nos critérios de suspeição para abordagem policial.
O racismo no Brasil existe e o bolsonarismo expõe orgulhoso suas vísceras podres. Superado nas urnas, agora é momento de vence-lo na batalha das ideias, como se faz em uma República. Com políticas públicas inclusivas e a responsabilização enérgica da Lei. A começar por apontar em que base serão sustentadas essas políticas públicas, claro, para além da margem pré-definida no programa de governo que foi eleito.
A definição de determinados nomes na equipe do governo de transição aponta caminhos. Ali, foi anunciado seis grupos técnicos, incluindo o grupo de Igualdade Racial e o grupo de Direitos Humanos. Nilma Lino Gomes, ex-ministra das Mulheres, da Igualdade Racial e dos Direitos Humanos de Dilma Rousseff (PT); Givânia Maria da Silva, quilombola e doutora em Sociologia; Douglas Belchior, ativista da Coalizão Negra por Direitos; Thiago Tobias, advogado; Ieda Leal, do Movimento Negro Unificado (MNU), Martius Chagas e Preta Ferreira, ativista pelo direito à moradia, todas e todos estes ocupando espaços na pauta da Igualdade Racial; enquanto o jurista Silvio Almeida e Janaina Barbosa de Oliveira, ativista do movimento LGBTQIA+ demarcam posição enquanto negros, entre os que debatem direitos humanos. Há ainda, Anille Franco, diretora do Instituto Marielle Franco e Roberta Eugênio, advogada, ambas negras, compondo o grupo técnico de mulheres.
Gente de peso e referência para dar uma resposta consequente ao atraso de quatro anos nas políticas de reparação. Gente com competência para refutar no debate publico esse discurso carregado de ódio contra o povo negro. Para defender a retomada e ampliação das cotas em universidades e no funcionalismo público, para defender igualdade salarial e de progressão na carreira, entre negros e não negros no mercado de trabalho, para defender a vida da juventude negra, que segue sendo exterminada nas periferias urbanas, pelo crime organizado, pelas milicias e pela polícia.
O mês da Consciência Negra de 2022 exige a retomada da reparação pela dívida que o Brasil tem com o povo sequestrado de África, explorados por mais de 3 séculos como escravos e seus descendentes que ainda seguem sendo explorados e violentados hoje. Isso não é vitimismo é a disputa histórica do Brasil, pela qual o povo negro não deve abrir mão.