No 8 de Março a ausência do Auxílio Emergencial põe em risco a sobrevivência das mulheres
Texto e foto: João Lucas Gama
Vídeo: Rubra Comunicação
O 8 de março é um dia de luta, quando se celebram as conquistas sociais, políticas e econômicas das mulheres, ao passo que denuncia as desigualdades de gênero e propõe reflexões sobre o papel da figura feminina diante da organização socioeconômica vigente. Diante do atual contexto pelo qual o país vem passando, essas reflexões precisam fazer parte da ordem do dia (não só hoje, como em qualquer outro).
A pandemia da Covid-19 escancarou não apenas as desigualdades sociais, mas também as de gênero (que permeiam e estruturam boa parte das disparidades socioeconômicas). Em um país onde metade das famílias são chefiadas por mulheres, os altos índices de desemprego, a inflação revertida para os alimentos e demais insumos básicos, bem como o fim do auxílio emergencial tem construído um cenário de carência que se alastra pelo país como um vírus.
Durante o último ano, o auxílio emergencial foi a principal (se não a única) medida socioeconômica de assistência às mulheres em estado vulnerabilidade social. Segundo dados do IBGE, em 2019, a taxa de desocupação na força de trabalho do estado de Pernambuco foi de 15,1%, no entanto, entre as mulheres, esse indicador supera a média de 17%. Observando um recorte étnico, o número de mulheres negras desempregadas sobe para 18,8%.
Com a chegada do novo Coronavírus, veio o aumento nos números de pessoas desocupadas com o fechamento de postos de trabalho. A conquista do auxílio emergencial no valor de R$ 600,00, ou de R$ 1.200,00 para famílias chefiadas por mães solteiras, representou um alívio para quem cumpre diariamente uma dupla função (produtiva e reprodutiva).
Com a redução do valor do auxílio para R$ 300,00 e o aumento significativo nos preços dos alimentos, o custo de vida ficou cada vez mais caro e o fim do auxílio emergencial cortou a rede de segurança que mantinha estável as populações mais vulneráveis. Foram as mulheres quem mais sofreram com esse impacto, visto que 55% das pessoas beneficiadas pela medida, eram do gênero feminino – segundo dados do Ministério da Cidadania.
É nesse contexto que as já históricas mobilizações e atos públicos realizados no 8 Março tomam corpo nas cidades brasileiras sob o lema “Fora Bolsonaro, Vacina para toda a população e Auxílio Emergencial Já!”. Em Recife, por exemplo, diversas entidades feministas e de defesa das mulheres, além de entidades sindicais e demais movimentos sociais têm realizado atividades nas comunidades e periferias da cidade, agindo em diálogo com as populações e organizando atos solidários no sentido de minimizar os impactos decorrentes da ausência do poder público.
Atos solidários e distanciamento social
Na última quinta-feira (4), o Sindipetro PEPB e a Marcha Mundial das Mulheres (MMM), com o apoio do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e do Projeto Mão Solidárias realizaram a distribuição de 50 botijões de gás de cozinha (GLP) e uma tonelada e meia de alimentos agroecológicos para famílias em estado de vulnerabilidade social na comunidade do Coque (Zona Sul do Recife). A ação foi destinada às mulheres da comunidade.
Na manhã de hoje, a MMM em parceria da Turma do Flau e do Movimento de Trabalhadoras e Trabalhadores por Direitos (MTD) realizaram diversas ações, que vão desde colagem de cartazes e exposições de faixas a rodas de debate – com uso de máscaras obrigatório e respeitando as medidas de distanciamento social – no Bairro de Brasília Teimosa (Zona Sul do Recife).
Ainda nesta tarde, a Central Única dos Trabalhadores (CUT) convocou uma minicarreata, que teve início às 14h e que, saindo da Praça de Santo Amaro (Centro do Recife) percorreu as ruas da capital pernambucana sob o lema “pela vida das mulheres resistiremos contra a fome, a miséria e a violência” e exigindo “Vacina para todos e todas Já!”.