Do protesto ao repúdio: recifenses vão as ruas e são reprimidos pela PM
Texto e fotos: João Lucas Gama
Eram 9h da manhã quando os primeiros manifestantes começaram a chegar na concentração do ato pelo Fora Bolsonaro, convocado pelas frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo, na Praça do Derby. As 10h, o protesto seguiu rumo à Conde da Boa Vista. Milhares de pessoas, portando cartazes, faixas e bandeiras de luta caminharam pacificamente pela principal avenida do Centro do Recife; todos enfileirados e mantendo distanciamento social. Pessoas organizavam as linhas da marcha, enquanto distribuíam álcool em gel, na tentativa de manter os protocolos de segurança orientados pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Todos esses esforços vieram abaixo quando, às 11h50, a Polícia Militar de Pernambuco pôs em prática toda a truculência de um Estado Fascista.
Em um país governado por um genocida que, por incompetência ou crueldade, já ceifou a vida de 459 mil brasileiros, protestar contra a morte de seres humanos é mais que um direito; é um compromisso ético. “Se o povo vai para as ruas, é porque o Presidente é ainda pior do que o vírus”, diz o Secretário Adjunto de Comunicação do Sindipetro PEPB, “esse é o momento de pressionar para derrubar esse governo, de maneira que possamos garantir comida na mesa, vacina no braço e um auxílio emergencial digno”, continua o sindicalista.
“Nós petroleiros, temos uma bandeira de luta contra as privatizações; cada sindicato, cada organização tem suas bandeiras de luta”, como diz Luiz Lourenzon, dirigente da Federação Única dos Petroleiros (FUP), no entanto, algo ali unia a todos e todas: a vacina e o direito à vida dos brasileiros. “Hoje, nos somamos a essa manifestação nacional. Nós não queremos que o vírus se propague, esse ato é justamente para combater a forma como ele vem sendo tratado no Brasil, que está nos levando a 500 mil mortes”.
“A CPI tem deixado muito claro que Bolsonaro sabotou a vacina o tempo todo”, complementa Diego Liberalino, “a intenção era provocar o caos para que isso não pudesse colocar o povo na rua, de maneira que ele tocasse sua política às custas da vida da população”. Este cenário narrado pelo sindicalista pode ser verificado na prática. Além do altíssimo número de mortos, o país voltou ao mapa da fome, com 125,9 milhões de pessoas já enfrentam algum grau de insegurança alimentar e mais de 19 milhões de brasileiros já enfrentam a fome como decorrência da crise econômica gerada pela forma como a pandemia foi gerida pelo Governo Federal.
Durante mais de uma hora, as bandeiras desfilaram pela Conde da Boa Vista, alimentando uma mistura de indignação, revolta e, principalmente, esperança de que este movimento nacional reforçasse a luta contra o neofascismo bolsonarista. Todos os protocolos eram duramente seguidos pelos manifestantes, mas a ação da Polícia Militar pôs tudo a perder.
Quando chegaram à Ponte Duarte Coelho, os manifestantes foram surpreendidos pelo Batalhão de Choque. Armados de escudos, balas de borracha, gás de pimenta e bombas de efeito moral, o braço repressor do Estado transformou a manifestação em um cenário de guerra. Pessoas feridas ou atordoadas pelo gás se viam, em meio desespero, levadas a retirar suas máscaras buscando ar para respirar. Não se sabe, ao certo, quantas pessoas ficaram feridas.
Mas não foram apenas civis que tiveram sua integridade física, civil e moral violadas. Na tentativa de dialogar com os policiais, a vereadora do Recife, Liana Cirne (PT) foi alvejada a queima roupa por um spray de gás de pimenta. Imagens flagraram o exato momento em que a parlamentar é atingida diretamente no rosto, ao se aproximar da janela de uma viatura. O spray de pimenta utilizado pela PM é uma arma destinada ao controle de multidões e causa náusea e dor intensa nos olhos e vias respiratórias. Na distância em que foi utilizada contra a vereadora, pode causar cegueira temporário e até mesmo permanente.
O que deveria ser um relato de esperança nas lutas e na força popular diante de um quadro social preocupante e revoltante, torna-se aqui uma nota de repúdio. A ação da Polícia Militar de Pernambuco caracteriza uma prática fascista, em que qualquer ato de discordância ou oposição política à figura do “Líder” é passível de repressão e truculência.
O Sindipetro destaca que, desde o início da pandemia, diversos protestos a favor – o que é, em si, uma contradição em termos – ao atual regime brasileiro vem sendo sistematicamente realizados, promovendo aglomerações irresponsáveis que estimula o não uso de máscara e o descumprimento de toda e qualquer medida de segurança sanitária. Com frequência, vemos fascistas e negacionistas desfilando nas avenidas recifenses como gado, no entanto, a PM jamais empreendeu qualquer ação minimamente semelhante à que pôde ser vista no coração da capital pernambucana na manhã de hoje.
Repudiamos veementemente a violência policial contra toda e qualquer frente antifascista. A democracia irá prevalecer!