Em apoio à Greve dos Caminhoneiros, petroleiros debatem política de preços da Petrobrás
Texto e fotos: João Lucas Gama
Era por volta das 5h30 da manhã quando os primeiros petroleiros começaram a chegar ao Posto Pichilau (no bairro de Prazeres, em Jaboatão dos Guararapes), local de concentração do trabalhadores e trabalhadoras do setor de transporte, durante a última Greve dos Caminhoneiros (em 2018). O Sindipetro PEPB, acompanhado de representantes do Sindicato dos Metalúrgicos de Pernambuco (Sindimetal-PE) e do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) uniram forças em apoio ao movimento grevista. Na ocasião, foi oferecido um café da manhã para os caminhoneiros. O ato serviu para evidenciar a necessidade urgente de mudança na política de preços da Petrobrás.
Desde 2016, ainda durante a gestão de Pedro Parente (ex-presidente da Petrobrás, na época do então presidente Michel Temer), a companhia tem adotado uma política de preços em paridade com o mercado internacional, equiparando o preço dos combustíveis produzidos no Brasil às variações do dólar e do barril de petróleo, o que tem causado os sucessivos aumentos nos valores dos combustíveis.
“A greve é o limite de uma categoria”, explica Diego Liberalino, diretor adjunto de Comunicação do Sindipetro PEPB. “Os caminhoneiros decidiram pela greve porque já não aguenta mais pagar quase R$ 4,00 pelo preço do Diesel (que chegou a esse valor após o último aumento)”, aponta o sindicalista.
Atualmente, o preço do Diesel já representa aproximadamente 60% dos valores de frete dos caminhoneiros. Entre a categoria, quem mais sofre com esse impacto são os motoristas independentes, ou seja, aqueles que não estão vinculados a empresas de transporte, não recebendo nenhum tipo de auxílio e, muitas vezes, tendo que arcar com todo o custo desse serviço de alta periculosidade.
Diego continua: “isso tem uma relação direta com as reivindicações dos petroleiros”. Desde 2016 a categoria tem se manifestado duramente contra a política de paridade de preços internacionais (PPI), que faz com que a população brasileira, que recebe seus salários em real, tenha que pagar os combustíveis e o gás de cozinha em dólar (que hoje está cotado em R$ 5,46).
“O que está por trás da PPI é o projeto de privatização das refinarias da Petrobrás”, afirma o petroleiro. “Então, quando a companhia equipara seus preços ao mercado internacional, ela está abrindo espaço para que as importadoras passem a importar combustíveis”. No último ano, o Brasil exportou 410 milhões de barris de petróleo, a maior parte para a China, enquanto, no mesmo período, o país (que é auto suficiente em petróleo) importou cerca de 68 milhões de barris, na maior parte de países da África e do Oriente Médio, segundo dados da Agência Nacional de Petróleo (ANP).
A Refinaria Abreu e Lima (RNEST) – uma das 8 refinarias que está sendo entregue pela Petrobrás – tem cerca de 70% da sua produção voltada para o Diesel S10 (combustível com baixas emissões de poluentes) e a conclusão das obras da segunda linha de refino (Trem 2) poderia duplicar a sua produção e acabar definitivamente com a necessidade de importação de combustíveis e derivados oriundos das empresas estrangeiras.
Sobre a política de paridade de preços, Diego conclui: “essa é uma decisão que cabe ao governo: que sejam praticados preços justos, atrelados ao custo de produção em real mais uma margem de lucro; isso naturalmente iria inviabilizar o processo de privatização e não é isso que o Governo Federal quer”.