Não a privatização da Copergás!
A receita neoliberal que enterrou a economia brasileira no tempo recorde de cinco anos, com os programas entreguistas “Ponte para o futuro” de Michel Temer e o “Posto Ipiranga” do Bolsonaro, aqui em Pernambuco foi rejeitado por 66,9% dos eleitores nas últimas eleições para Presidente, porém, a governadora do estado Raquel Lira (PSDB) resolveu aplicar outra forma de trilhar o caminho do desmonte privatista.
Compesa e Metrorec já entraram na pauta do governo tucano, porém esses contam com um entrave legal maior, o que não é o caso da Companhia Pernambucana de Gás (Copergás), que já tem o capital aberto e conta um seletíssimo seguimento privado atuando sobre ela. O governo do estado detém a gestão acionária de 51% enquanto os acionistas privados de origem japonesa, com participação na Commit Gás e Mitsui Gás, dividem-se com 24,5% cada. Na teoria a apresentação ilustra uma participação majoritária do estado pernambucano à frente das estratégias de mercado de distribuição de gás natural, mas nem tudo é o que parece.
Estado e Mitsui estão se alinhando para entregar definitivamente o controle operacional da Copergás. Esse modelo de arranjo privatista pode se repetir em outras quatro estatais do ramo de gás natural na região Nordeste, além de Pernambuco. Aqui, esse negócio chama a atenção pela possibilidade de reunido os interesses da acionista privada, está passaria a ter 70,94% das ações preferenciais da Copergás. A Mitsui teria duas das três diretorias e duas vagas no Conselho Administrativo, garantindo assim um poder de veto em escolhas importantes do conselho; tamanho poder pode ser compreendido administrativamente como uma privatização, ainda que velada.
A Senadora da República, Teresa Leitão (PT), já se manifestou publicamente dizendo ter esperança de que a governadora Raquel “busque alternativa para manter o estado com o voto decisório no conselho”, já o Sindicato dos Petroleiros de Pernambuco e Paraíba (SINDIPETRO PE/PB), provocou o questionamento através do Diretor Jurídico, Thiago Gomes, perguntando que tipo de empresa de gás natural interessa à Pernambuco, “uma que seja mera geradora de dividendos para transnacionais ou aquela que fomenta o desenvolvimento de nosso estado, com um insumo competitivo?”
Mitsui, conglomerado japonês citado em esquemas de corrupção
A cultura coorporativa japonesa é conhecida no mundo por valores como a lealdade dos funcionários, trabalho em equipe e respeito, esses são critérios que balizam o “kaizen”, doutrina oriental que significa “melhoria contínua”. Por isso, as empresas que tem origem na “Terra do Sol nascente” têm uma abordagem de longo prazo, buscando maneiras de melhorar seus processos e produtos em meio a uma cultura de retidão e transparência. No entanto o que se reconhece da japonesa Mitsui desde que começou a operar como multinacional aqui no Brasil, não é lá tanto isso.
O histórico da Grupo Mitsui no mercado de ações brasileiro passa por mais de 70 empresas, desde o agronegócio, ramo de seguros, passando pela Petrobrás, metrô do Rio de Janeiro (Supervia), Estaleiro Atlântico Sul, Vale e outras. Nesse lastro coorporativo um rastro de irregularidades tem ficado pelo caminho. Em 2014 a multinacional teve um vice-presidente indiciado pelas investigações do MP de São Paulo, que escancararam o escândalo de formação de cartel, além de pagamento de propinas e corrupção nas obras da Companhia Paulistana de Trens Urbanos (CPTM). A Mitsui, junto com outras multinacionais operaram um esquema ilícito que provocou um rombo de R$ 834 milhões, de acordo com a Polícia Federal.
Em 2016, mais uma vez o conglomerado é alvo da Justiça ao participar de negociações de “venda de atos legislativos”, liderados pelo ex-presidente da Câmara de Deputados na época, Eduardo Cunha. No esquema, Cunha teria recebido R$ 40 milhões em parceria com o ex-diretor da área internacional da Petrobras, Nestor Cerveró, que seria propina na aquisição de navios sonda da estatal de petróleo brasileira.
Pelo visto, para uma multinacional que só no Brasil opera em 12 ramos econômicos, o conceito de “kaizen“ se restringe apenas aos negócios internos do Japão, enquanto que nos demais países, em particular com um capitalismo atrasado e cristalizado em oligarquias, basta respeitar “as regras dos países”, como disse Shinji Tsuchiya, Presidente da Mitsui, à CPI da Petrobras, naquele ano.